Alianças de casamento? Porquê?

Há uma história em torno da joalharia. Quando desenho uma joia, vou mexendo, acrescentando, herdando uma minúscula parte desse gigante legado que vem desde do paleolítico e que sempre teve que ver com a necessidade do ser humano por se ornamentar.

Desenhei muito, criei muitas joias e muitas delas rumavam nesse sentido de ornamentação. Depois de um longo percurso, depois de muitas criações, olhando para trás fui sentindo um vazio interior... talvez uma espécie de crise existencial, onde não me estava a realizar pela vertente ornamental, nem pela luxúria, nem na ostentação, nem na questão de investimento que podem estar inerentes na joalharia... Parecia que tudo que fazia não seguia no rumo certo e isso começava-me a perturbar.

O meu casamento iniciou um novo despertar, uma vez que tinha de desenhar as nossas alianças e não queria que fossem um símbolo generalista (tradicional), mas queria algo mais relacionado com uma simbologia do nosso amor, da nossa relação que não é nem tradicional, nem igual às demais relações... é algo muito próprio nosso e também as alianças também o teriam de ser... Foi um momento de charneira, uma vez que, por estar a tratar de as desenhar com a nossa relação em mente, desenvolvi uma serie de noções relativamente ao que poderiam ser umas alianças de casamento pensadas nas relações entre casais. Por essa altura a ideia ainda ficou engavetada uns tempos, embora me sentisse cada vez mais motivado a explorar o tema com profundidade.

Precisava de libertar-me de criar joias só porque sim. Precisava de criar joias com um significado, com mais profundidade que meras conceções estéticas. Foram dois anos desde os vários esboços, passando pelos primeiros modelos com moldes que não estavam ainda impecáveis. Alguns passos à frente e outros atrás, até conseguir resolver todas as críticas que iam surgindo relativamente aos primeiros ensaios... Até que, finalmente, consegui uma coleção estruturada, com 10 modelos cuidadosamente pensados, onde sempre encaixam sejam quais forem as medidas dos clientes. Finalmente tinha  conseguido uma marca de alianças, onde a estética passou para outro plano, onde o tradicional "passou à história", onde a mera decoração não tem espaço.... Finalmente havia conseguido criações que retratassem principalmente o amor, principalmente as relações reais entre pessoas. Finalmente consegui uma coleção de jóias onde me revejo totalmente, onde sinto que está uma parte importante de mim, uma coleção que não me canso de olhar, uma coleção onde não consigo escolher a minha peça favorita, uma coleção sincera. Finalmente criei joias que, tal como no amor, elas realizam-me!

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